terça-feira, 11 de outubro de 2011

Uma verdade religiosa.


Vi no blog do Pavarini que viu no Treta, que viu no Capinaremos

E quando Deus não cura? – Parte 1/2

By Maurício Zágari

Hoje vou falar um pouco sobre mim. Mas por uma boa causa: para poder falar sobre você e sobre por que Deus não cura a sua doença. Por isso peço um pouco de paciência se meus primeiros parágrafos serão muito pessoais, mas você entenderá mais à frente o porquê. Não costumo comentar o assunto que abrirá este post, pois anos atrás fiz uma espécie de pacto não-oficial com Deus de só comentar sobre o tema em questão com Ele e não com as pessoas. Fato é que sofro há 16 anos, desde os 24, com uma doença chamada fibromialgia, que causa dores horríveis no corpo, enrijecimento dos músculos, falta de ar, apatia e outros sintomas complicados. É uma doença terrível que, como disse a atriz Kathleen Turner (que sofre de artrite reumatoide), “não acaba com a sua vida, mas com a sua qualidade de vida”. Fibromialgia é incurável. É do tipo que vai-se levando, suportando e contando com a graça de Deus. Quando me converti, pedia orações a qualquer cristão que encontrasse pelos corredores da igreja, achando que de repente aquele irmãozinho poderia ser o canal da cura que só Deus milagrosamente poderia dar mediante a oração.

Este seria um post muito longo. Então, seguindo o conselho de meu amigo Pr. Renato Vargens (@renatovargens, que teve a paciência de ensinar a este blogueiro com apenas 4 meses de experiência um pouco sobre como blogar melhor), vou dividi-lo em 2 partes, que publico ao longo de dois dias aqui no APENAS (e no blog da MIAC).

Fé eu sempre tive. Cria e creio na cura divina, nos milagres. Mas chegou um momento em que percebi que não adiantava ficar aborrecendo os irmãos, me lamuriando, pedindo oração atrás de oração. A minha cura era algo que só Deus poderia dar. Só Ele. Dependia exclusivamente de Sua soberania e de Sua vontade. Nenhum dos mais de 30 médicos a que fui, inclusive no exterior, conseguiu fazer nada. Foi então que, como eu disse, fiz um acordo com Deus de parar de tocar no assunto. A maioria das pessoas com quem passei a conviver de uns 9 ou 8 anos pra cá nem sabe que sofro desse mal. Que, com o perdão do trocadilho, não é mal, é péssimo. Resolvi tocar a vida e conviver com minha inimiga, orando e aguardando com paciência que Jeová Rafá, o Deus que cura, dissesse “basta”. Algo que, até hoje, 16 anos depois, ainda não ocorreu. E estou consciente: talvez nunca ocorra.

Sou obrigado a conviver com despertares com falta de ar, alongamento zero, a impossibilidade de dirigir e fazer ginástica, dores terríveis nas costas ao pegar minha neném no colo e coisas do gênero. Não consigo digitar num computador, pois cada dedo de minha mão doi. Digito segurando duas canetinhas, que chamo de “minhas muletinhas”. Mas isso hoje se tornou apenas um espinho. Estou ciente de que na eternidade, que é o que importa, tudo isso terá passado. É uma breve e momentânea tribulação, que redundará em grande peso de glória.

Sei que tudo o que estou falando pode estar fazendo você pensar “tadinho dele”. Mas… não sinta pena de mim. Sei o que Deus fez em minha vida por intermédio de todo esse sofrimento. Não vou contar tudo aqui, seria um livro. Basta dizer que pelo menos 9 pessoas de minha família foram salvas por Jesus de um modo ou de outro por causa dessa minha doença, por caminhos que você não imagina. Depois que minha inimiga manifestou-se no meu corpo, ainda traduzi 17 livros cristãos, usando um software de ditado vocal, escrevi quatro livros com o velho método de caneta sobre caderno (inclusive os três da coleção Geração Ação e um teológico, ainda não publicado), trabalhei 9 anos em televisão, 3 anos em comunicação empresarial e hoje trabalho junto à denominação em que congrego. Deus tem me dito que “Sua graça me basta” e tem me dado meios e alternativas – assim consegui sobreviver aos meus últimos 16 anos. Mas dói. 24 horas por dia. 7 dias por semana. Dói sem parar. E é neste ponto que quero entrar no assunto da sua doença.

Quando era recém-convertido eu buscava todos os meios na igreja para obter a cura. E sim, confesso, no início eu busquei Deus por puro interesse egoísta, para obter uma cura que a medicina me negava e não porque o amasse. Fato é que eu não o conhecia e por isso me aproximei dele como de um gênio da lâmpada, de forma interesseira. Com o tempo isso mudou. Jesus se revelou a mim. Apresentou-me Seu amor e Sua graça. Me cativou e conquistou. Me justificou. E hoje eu mal penso na doença, embora a sinta, e muito – mas ela é apenas uma companheira incômoda.

Iniciei um périplo em busca da cura divina e, nessa peregrinação, ouvi de tudo. Em círculos de oração me disseram “a oração da fé já foi feita, agora só creia, a cura já foi decretada, você só tem que tomar posse”. Então eu, sem entender esse negócio de “tomar posse”, acreditava naquilo tudo que os irmãos mais experientes na fé me diziam e tentava, me esforçava para ter fé – como se ter fé fosse algo que dependesse de eu apertar os olhos e fazer força. Eu era ignorante nas realidades bíblicas, essa é que é a verdade.

Escutei “Deus já te curou, agora é só esperar os sintomas sumirem”, “você está curado, se a dor aparecer repreeenda porque é o diabo testando sua fé” e montes e montes de explicações que hoje sei que são fruto da doutrina herética da Confissão Positiva (leia mais no post “E se a Teologia da Prosperidade se convertesse ao Espiritismo?“). Bobagens e mais bobagens do ponto de vista bíblico foram ditas a um jovem recém-convertido de 24 anos em desespero porque teve de deixar o emprego de repórter/redator no jornal O Globo porque tinha muitas dores e não conseguia trabalhar. “Vasos” me fizeram beber azeite (que odeio) “ungido”. Tinham visões com “cadeiras de rodas preparadas para mim no inferno”. Mas a vitória era minha, em nome de Jesus!!! E ouvir tudo aquilo me causava enormes dramas na alma, pois eu não entendia! Os irmãos mais antigos, os obreiros, as irmãs “de fogo” e todo mundo falava que eu já estava curado pela oração da fé, que Jesus já levou sobre si todas as nossas enfermidades e agora era só “tomar posse”, que “tudo depende da tua fé” etc etc etc… mas a verdade é que a doença permanecia. E doía, doía e doía.

Entrei em depressão. Um médico chegou a dizer literalmente: “Olha, meu filho, vire cantor de ópera, porque nunca mais você vai poder usar um computador”. Isso para um jovem jornalista em ascenção profissional, que trabalhava no jornal O Globo e usava um computador como instrumento de trabalho. Tive de pedir à minha chefe que me demitisse. Minha barba chegou ao peito. Eu passava o dia deitado na cama. Mal comia. Pesava 55 quilos. Só me levantava para ir ao banheiro e à igreja. Usava luvas de couro nas mãos para limitar os movimentos dos dedos e reduzir a dor neles. Via o olhar impotente nos olhos entristecidos de meus pais. Houve um dia em que tive de decidir: me jogar embaixo do primeiro caminhão que passasse na rua ou continuar vivendo, dia após dia após dia após dia após dia após dia após dia após dia após dia.

E foi então que…

Foi então que resolvi ler a Biblia de Gênesis a Apocalipse. Tempo eu, desempregado e sem perspectivas, tinha de sobra. Tive cinco meses de desemprego para isso. E li. Li a Biblia toda. Pela imersão na Palavra, o Cristianismo passou a fazer sentido para mim. Cristo ganhou contornos. Fui inundado pela vontade de viver, de gerar frutos, de continuar a combater o bom combate. De dedicar a minha vida à causa da Cruz. E chegou o dia em que eu estufei o peito e decidi que não: eu não me atiraria embaixo do caminhão. Pois, na ocasião eu não sabia, mas havia sido tocado por algo chamado GRAÇA.

Fiz a barba. Lavei o rosto. Comi. E comecei ali, em 1997, a ser um cristão de verdade – alguém que, no meio da desgraça, prostra-se, rosto em terra, em adoração, e diz: “Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei. O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor ” (Jó 1.21,22). A partir daquele momento, parei de ver Cristo como um personagem e passei a enxergá-lo como uma pessoa. Deixei de buscá-lo por interesse, como o balconista que poderia me dar algo, e comecei a ter intimidade com Ele, a ter uma relação pessoal, de diálogo, de compartilhamento. E fiz o já mencionado pacto não-oficial com Deus: eu pararia de aborrecer as pessoas falando das minhas dores e limitações, dos meus sofrimentos e daquilo que ninguém poderia resolver. A única pessoa com quem eu me queixaria sobre o assunto seria Aquela que tinha capacidade de me livrar daquela desgraça que me assolava: o Deus criador dos céus e da Terra, o autor do universo, o Ser que tudo pode mediante uma palavra. E me calei sobre o assunto com os homens.

Quem me conhece sabe que mal toco nesse assunto. Muito raro. Com Deus, oro todos os dias pedindo a cura. Com os homens, cuja medicina me é inútil, falo sobre outras coisas, de nada adianta murmurar ou me lamuriar – eles nada podem fazer e o olhar de peninha em seus olhos me incomoda sobremaneira. Sem falar que conviver com quem só vive se queixando dos seus problemas é cansativo para quem está ao redor – e não quero ser estorvo para ninguém. E é assim que hoje vivo.

E o que você tem a ver com isso?

Mas… por que decidi contar minha via-crúcis pessoal a milhares de pessoas pelo APENAS? Por que resolvi subverter minha decisão de deixar esse assunto nas sombras? Foi uma decisão difícil, não gosto de tocar nesse assunto nem de me expor. Mas vi uma boa razão. Acredito que as coisas ruins que nos acontecem servem, entre outras coisas, para edificarmos aqueles que passam pelo que nós já passamos. Pois foi quando entrou na minha vida, pela internet, um irmão, que me mandou uma mensagem. Ela tornou-se o estopim para eu escrever este artigo. Vou manter esse irmão anônimo, pois quem ele é não importa para você no que tange a este texto. Reproduzo aqui abaixo ipsis literis suas palavras, enviadas a mim pela internet, e depois vou comentá-las. Espero que, de algum modo, isso venha a edificar você, leitor:

“A paz de Cristo, Mauricio. Antes de mais nada, quero lhe dizer que suas palavras no blog fazem muito bem a minha alma, glorificado seja Deus por isso. Bem, tenho procurado andar no caminho do Senhor há 5 anos, quando me batizei e me tornei membro de uma Comunidade Evangélica aqui da minha cidade. Pois bem, pelo fato de eu ser cadeirante, muitos irmãos acham que estou na igreja para buscar a cura e voltar a andar. Esse tipo de atitude me incomoda muito, pois nunca dirigi nenhuma oração a Deus pra realizar esse milagre, tenho fé e sei que Deus cura, salva, liberta, mas a cura é algo que não busco, me converti unicamente pelo que Deus é. Já expus a minha opinião para algumas pessoas, que argumentam que Deus fez o homem pra ter o corpo perfeito, já ouvi vários absurdos, até mesmo que não tenho fé. Enfim, baseado no poder do Espirito Santo que tá na tua vida, sua sabedoria e conhecimento biblico, estou errado em ter esse tipo de pensamento??
Desde já lhe agradeço.“

Em vez de responder apenas a ele, orei, refleti e decidi me expor e escrever um artigo sobre isso, pela única razão de que sei que há muitos na mesma situação, com doenças diferentes, mas que desejam muito serem curados. E que, assim como eu e esse irmão, ouviram montes de bobagens antibíblicas, baseadas nas ideias da Confissão Positiva proliferadas por hereges como (foto à esquerda) Kenneth Hagin (de novo, se você passou batido pelo link acima, recomendo enfaticamente que leia o post “E se a Teologia da Prosperidade se convertesse ao Espiritismo?” e descubra de onde saíram essas ideias). Bobagens essas que, além das dores em si que sentimos no corpo, geram dores na alma, culpa nos ossos, infelicidade e a nítida sensação de que Deus por Sua vontade já nos teria curado mas, por culpa nossa, da nossa falta de fé, porque erramos uma letra ou uma vírgula numa oração… continuamos doentes.

O resto dessa história e a teologia que explica por que Deus não curou a mim e a você eu continuo a contar amanhã no post “E quando Deus não cura? – Parte 2/2″

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Extraído do blog "Apenas1", autoria de @MauricioZagari
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...