segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O mau samaritano

by Mauricio Zágari

Não adianta dizer que não: você é mau. Simplesmente porque você, assim como eu, não pratica o que Jesus ensinou. Neste momento, você, revoltado com a minha petulância, já se irritou com “esse tal de Zágari, que nem me conhece e já está me julgando. Como assim?!”, você diria, “sou lavado e remido no sangue de Jesus, peco mas não sou pecador, sou santo, faço exame de consciência sempre que vou tomar a Ceia e peço perdão pelos meus pecados”. Ótimo. Que bom que você faz isso. Também faço. Mas só para você ver que não sou de todo um santarrão que põe o dedo na cara dos outros, vou te fazer apenas 5 perguntas e você responda honestamente:

1. Se alguém te dá uma fechada no trânsito e ainda grita pela janela ofendendo a senhora sua mãe como você reage?

2. Se alguém te dá um tapa na cara você vira pra ele e diz “por gentileza, o outro lado do rosto ainda não está doendo tanto, se incomodaria de acertá-lo também?”?

3. Se uma pessoa te obriga a fazer algo que você não quer, você faz espontaneamente duas vezes mais o que ela pediu?

4. Se você vê um homem caído no chão vestido em trapos, rasgado, com aparência de um bêbado semimorto e com feridas espalhadas pelo corpo, você para e o ajuda ou finge que não é com você e prossegue no seu caminho?

5. Olhe profundamente dentro do seu coração. Você vê uma luz radiante ou uma escuridão profunda?

Cinco perguntas, cinco respostas simples. Vamos então às respostas:

1. Se você foi honesto, vai responder que, no mínimo, teve pensamentos bastante agressivos àquela pessoa que te fechou no trânsito e te ofendeu. Mas Jesus nos ensina que devemos orar por quem nos faz mal. Você ora por essa pessoa?

2.. Até hoje não conheci um ser humano sequer que tenha dito tais palavras. Em geral, a reação é partir pra cima e sair no tapa. Jesus mandou dar a outra face. Repare: mandou. Não pediu. Mandou. Você faz isso?

3. Provavelmente você faz o que essa pessoa te obrigou, de má vontade, e olhe lá. Jesus mandou que se alguém nos obrigasse a andar com ele uma milha, que andássemos duas. Você anda?

4. Acabei de descrever a aparência do homem abandonado à beira da estrada na parábola do Bom Samaritano. Se você alguma vez na vida parou para ajudar um homem com essa aparência, parabéns: você é o primeiro que eu conheço. Em geral as pessoas passam apressadas e não dão a mínima.

Vamos ler agora o que Jesus MANDA nós fazermos, conforme descrito no evangelho segundo Lucas, a partir do versículo 27: “Digo-vos, porém, a vós outros que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam. Ao que te bate numa face, oferece-lhe também a outra; e, ao que tirar a tua capa, deixa-o levar também a túnica; dá a todo o que te pede; e, se alguém levar o que é teu, não entres em demanda. Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles”. Pulemos agora ao versículo 35: “Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus. Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai.“

Quando eu leio essas palavras de Cristo, não consigo falar nada. Apenas gemo. O que sai de minha boca ao ler isso são apenas interjeições de dor. É um “ai” depois de outro “ai”. Pois o que Jesus está MANDANDO eu fazer eu não faço. Em geral quero arrebentar meus inimigos. No mínimo, tratar com desprezo quem não gosta de mim. Saio falando cobras e lagartos sobre quem diz coisas maldosas a meu respeito, de preferência para o maior número possível de pessoas, que é para detonar mesmo aquele cabra miserável. Se inventam mentiras sobre mim eu escrevo e-mails me defendendo, busco gente que seja minha testemunha, faço e aconteço, e, sinceramente, orar pelo bem dessas pessoas geralmente é a ultima coisa que penso em fazer. Se alguém me bate na cara eu viro a mão na cara dele e parto pro braço, afinal sou macho pra caramba e não vou deixar passar barato. Se alguém pega qualquer coisa que seja minha, mesmo que seja uma caneta na minha mesa, logo logo dou um jeito de pegar de volta. É mi-nha! Que história é essa de deixar a túnica? Eu, hein?! Dar a quem me pede? Hmmmm, depende: o que eu vou ganhar em troca? Já com relação aos meus inimigos, quero mais é que eles morram, que se deem mal, que tudo de ruim lhes aconteça. São meus inimigos, poxa, quem é filho do Rei aqui sou eu, que história é essa? Que se explodam! E se eu empresto um dinheiro para alguém posso até não falar nada, mas por dentro fico remoendo “será que é hoje que ele vai me pagar de volta?”.

Agora… Se me perguntarem se eu sou misericordioso… Vou fazer minha melhor cara de crente de culto, vestir minha melhor aparência de santidade dominical e deixar todos verem que santinho eu sou. Hipócrita, isso sim.

Ah! Já ia esquecendo! Diante disso tudo, faltou responder à quinta pergunta. Mas, pensando bem, meu irmão, minha irmã, com tudo o que acabei de falar será que ainda preciso responder a isso? Sem a menor sombra de dúvida olho as profundezas do meu coração e vejo trevas densas. Uma escuridão assustadora. E é justamente por isso que, se não carrego em mim aquele que é a Luz do Mundo, tudo o que me espera é choro e ranger de dentes.

Sim, sou mau. Segundo os padrões de Cristo, sou muito mau. Ele mesmo confirmou isso quando disse “vós, que sois maus…” em Mateus 7.11 e Lucas 11.13. E por que estou dizendo isso? Pois a percepção da minha maldade me leva cada mais a perceber que só em Cristo tenho qualquer esperança de ter um mínimo de bondade. Em Mateus 7.17, o Mestre diz que “toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore má dá frutos maus”. O que me assusta é o que Ele diz logo depois, no versículo 19: “Toda árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada no fogo”.

Eu tremo ao olhar para dentro do meu coração e depois ler isso. Você não? A única coisa que faz com que eu me aquiete um pouco quando olho no espelho e vejo quem eu REALMENTE sou e não quem os irmãozinhos que me veem como um santinho sorridente acham que eu sou é uma coisa chamada graça. Sem ela, querido, querida, não passo de um mau. Um mau samaritano. Uma árvore má. Um mau cristão.

Senhor Jesus, preciso da tua graça todos os dias. Todas as horas. Todos os minutos. Todos os segundos. Senhor Jesus, que venha a tua graça para acender a luz em meu coração e fazer de mim alguém um pouco menos mau.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Autor @MauricioZagari do blog "Apenas1"

O declínio da igreja da bispa Sônia


ISTOÉ

A líder evangélica enfrenta a decadência de sua Renascer em Cristo, que já fechou 70% dos templos, a doença do filho e sucessor natural, em coma há dois anos, e os processos na Justiça por formação de quadrilha e estelionato

João Loes e Rodrigo Cardoso
CRISE


Aos 52 anos, a religiosa que brilhava entre as estrelas evangélicas do País vê o poderio de sua igreja definhar

"É difícil pensar em alguém menos apropriado que a bispa Sônia para escrever um livro intitulado ‘Vivendo de Bem com a Vida’." A frase é de um ex-bispo que foi do alto escalão da Igreja Renascer em Cristo por mais de uma década e sintetiza o momento da instituição neopentecostal brasileira liderada pelo casal Sônia, 52 anos, e Estevam Hernandes, 57. No ano em que comemora um quarto de século, a denominação, tida como a grande promessa evangélica dos anos 1990, dá sinais claros de que está em franca decadência. Com cisões internas, uma complicada crise sucessória, um crescente número de lideranças migrando para outras denominações, templos fechados por falta de pagamento de aluguel e um sem-número de indenizações a serem pagas num futuro próximo, as perspectivas não são nada boas. “O futuro da igreja está nas mãos de Deus”, disse a bispa em entrevista exclusiva à ISTOÉ:

"A vida do meu filho está nas mãos de Deus.
Ninguém pode dizer que ele não vai se recuperar"

"Aprendi que tudo que passamos na vida tem um propósito"

Na primeira entrevista desde 2008, Sônia Hernandes fala sobre o declínio da igreja que ajudou a fundar e as lições que tirou do período em que esteve presa nos Estados Unidos, entre outros assuntos


João Loes


ISTOÉ – Em 2002 a Igreja Renascer tinha 1.100 templos no mundo. Hoje são menos de 300. O que aconteceu?

Sônia Hernandes – Houve uma readequação, algumas igrejas pequenas foram agrupadas para formar igrejas maiores, ao mesmo tempo que houve um incentivo para a abertura de grupos de desenvolvimento que acontecem nas casas, muitas vezes alimentados pela tevê e pela rádio. Atualmente, o número desses grupos em desenvolvimento já supera 1.000.

ISTOÉ – Quem será o sucessor da sra. e de seu marido na Renascer, uma vez que seu filho Tid está gravemente doente?

Sônia – A vida do meu filho está nas mãos de Deus. Ninguém pode dizer que ele não vai se recuperar, isso depende de Deus e nós cremos Nele. Da mesma forma, o futuro da igreja também está nas mãos de Deus, confiamos plenamente na direção Dele.

ISTOÉ – A Igreja Renascer em Cristo sofreu muitas perdas de bispos nos últimos anos. A que a sra. atribui tantos abandonos?

Sônia – Esses bispos saíram ao longo dos últimos três anos e, dentro do universo de pessoas que fazem parte da igreja, não entendemos como abandono até porque, nesse mesmo período, um número muito maior foi agregado. Apenas no último mês, tivemos a unção de 14 novos bispos.

ISTOÉ – Só em São Paulo existem cerca de 40 ações de despejo contra a Renascer. Por que a igreja não consegue cumprir com suas obrigações?

Sônia – Todas as ações estão em negociação e a igreja tem feito um grande esforço para resolver as questões pendentes. Muitos casos já estão resolvidos, negociados com imobiliárias e proprietários.

ISTOÉ – Que lições a sra. tira do tempo em que ficou impedida de sair dos Estados Unidos, cumprindo prisão domiciliar? O que a sra. diz sobre as acusações de “contrabando de divisas” e “não declaração à alfândega”?

Sônia – Aprendi que tudo que passamos na vida tem um propósito e que Deus está no controle de todas as coisas. Se eu tive que passar por isso, graças a Deus passei e saí fortalecida. O que posso dizer é que, no que eles entenderam que erramos, estamos completamente em dia com a Justiça norte-americana, inclusive com Greencard.

ISTOÉ – Por que vocês cobram carnês para reconstruir o templo da Lins de Vasconcelos se a Justiça impede a construção?

Sônia – Quanto à construção ou não da Lins, a Justiça ainda não nos deu um parecer definitivo, mas as campanhas realizadas nos últimos meses foram específicas e direcionadas para adequar e aparelhar outras sedes próprias, como a igreja dos Jardins e a da Vila Matilde. A atitude de contribuir com isso ou não é totalmente voluntária, não há cobrança.

ISTOÉ – Por que alguns familiares das vítimas do acidente da Lins continuam sem indenizações?

Sônia – Desde o primeiro momento, nossa maior preocupação foi justamente com as pessoas. A igreja procurou entrar em acordo e ajudar todas as famílias das vítimas às quais tivemos acesso, mesmo antes disso chegar à Justiça. Demos uma grande assistência às famílias, não só financeira como psicológica. Nós já fizemos vários acordos, praticamente com todas as vítimas.

ISTOÉ – Em 2011 a Renascer completou 25 anos. O 25o ano não foi dos melhores. O que a sra. espera para os próximos 25?

Sônia – Não concordo que o 25º ano não foi dos melhores. Tivemos anos desafiadores, mas cremos que faz parte do processo de constituição de Deus nas nossas vidas. Para os próximos 25, espero que o Senhor continue nos abençoando e nos ajude a comunicar o Seu amor para cada homem e mulher desta nação.

ISTOÉ – Por que a sra. resolveu escrever esse livro agora?

Sônia – Tenho o privilégio de viver uma vida relativamente equilibrada, apesar dos altos e baixos e da doença do meu filho, e me sinto devedora por isso. Escrevi o livro como forma de agradecer às pessoas que torcem por mim e me dão forças.

O livro “Vivendo de Bem com a Vida” (Ed. Thomas Nelson), que narra parte da trajetória desta que ainda é uma das figuras femininas de maior peso do movimento neopentecostal brasileiro, será lançado oficialmente no sábado 10, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Com tom professoral e confessional, o título já vendeu as 17 mil cópias da primeira impressão e está a caminho de esgotar as dez mil da segunda, uma raridade para o mercado editorial brasileiro. Parte desse quinhão será oferecida para os fiéis nos templos da Renascer a preços bem acima da média. “Quero cinco pagando R$ 300 por cada um destes livros até o final do culto”, anunciarão os bispos, como já fazem com os CDs, DVDs e livros nos templos da instituição. Tudo para aumentar a arrecadação do grupo. “A sede deles por dinheiro é absolutamente insaciável e está destruindo a igreja”, afirma o ex-bispo.

NOS EUA (foto)
Presa com dólares na "Bíblia". Acima, a mansão em Miami

Sede essa que não é mais condizente com a estrutura encolhida que a igreja tem hoje. Em 2002, a Renascer em Cristo contava com 1.100 templos espalhados pelo Brasil e o mundo. Atualmente são pouco mais de 300. O líder que poderia imprimir agilidade à administração, o bispo Tid, primogênito de Estevam e Sônia que sempre teve saúde frágil, está em coma profundo há quase dois anos num leito de hospital. Da equipe de aproximadamente 100 bispos de primeiro time que a denominação tinha espalhada pelo Brasil até 2008, metade saiu para outras igrejas levando consigo pastores, diáconos e presbíteros. Para o lugar deles, ascenderam profissionais com menos experiência, o que, especula-se, pode ser um dos motivos da debandada de fiéis.

Quem acompanha a bispa hoje, porém, pode até acreditar que ela viva de bem com a vida, como diz o título de seu livro. Com um salário que gira em torno dos R$ 100 mil, ela continua com programas televisivos e de rádio diários, se veste com as mais exclusivas grifes e está sempre adornada com joias e relógios caros. Do apartamento triplex onde mora, em um bairro nobre na zona centro-sul da capital paulistana, ela sai pela cidade para cumprir suas obrigações de carro importado, blindado e escoltada por dois seguranças. Isso quando não usa um helicóptero avaliado em R$ 2,5 milhões para visitar seus sítios e haras no interior paulista. Mas que o observador não se engane. A riqueza que ela ostenta hoje não tem a retaguarda do começo dos anos 2000, quando a Renascer nadava de braçada no mar do crescente movimento evangélico brasileiro. “Hoje os Hernandes sangram a igreja para dar sobrevida ao padrão de vida nababesco que têm”, acusa um dissidente. Se nos anos 1990 a opulência do casal servia de chamariz para os adeptos da teologia da prosperidade, que celebra a riqueza material como uma dádiva proporcional ao fervor com que o devoto professa sua fé, hoje ela é uma ameaça à sobrevivência da instituição.


DOR (foto)
Juris Megnis perdeu mãe e avó no desabamento
do templo da Renascer e ainda não foi indenizado

Mas como uma neopentecostal de envergadura internacional, que trouxe eventos gigantescos ao País, como a Marcha para Jesus, capaz de arregimentar 3,5 milhões de pessoas na capital paulista num único dia, e criou marcas de imenso sucesso como o Renascer Praise – o maior show de música gospel do Brasil, com mais de 15 edições –, entrou numa espiral descendente e, aparentemente, irreversível, de prestígio e credibilidade? Por que uma líder tão carismática como Sônia Hernandes perdeu apelo tão rápido? Dois eventos, próximos um do outro, desencadearam a derrocada da instituição. O primeiro começou na madrugada do dia 14 de janeiro de 2007, uma terça-feira. A caminho de Miami, nos Estados Unidos, Sônia, Estevam, dois filhos e três netos embarcaram na primeira classe de um voo levando US$ 56.467 em dinheiro. Ao pousar, tentaram passar pela alfândega americana sem declarar o valor. Foram pegos, presos, admitiram a culpa e cumpriram pena de reclusão em regime fechado e semi-aberto. Na época veio a público a informação de que parte da quantia foi encontrada dentro de uma “Bíblia”.

O impacto na igreja por aqui foi de nítido enfraquecimento. Segundo o professor Paulo Romeiro, da pós-graduação em ciências da religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, casos como esse podem até reforçar os laços de quem tem vínculos exclusivamente emocionais com a instituição. Mas para o fiel pragmático – cada vez mais presente no rol de devotos, como bem mostra a alta no trânsito religioso entre denominações – a força de um caso desse pode ser devastadora. Somada às acusações de lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e estelionato feitas pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), que vieram a público em 2007, a prisão nos Estados Unidos potencializou as incertezas dos fiéis. “Eles perderam a confiança do rebanho”, garante outro dissidente. Em 2008, o reflexo da debandada chegou aos cofres da instituição. Naquele ano, como arrecadou menos, a dívida com aluguéis de imóveis bateu os R$ 7 milhões.

Pouco depois, enquanto o casal ainda cumpria pena nos Estados Unidos, veio o segundo baque. Em 18 de janeiro de 2009 o telhado da sede da Renascer, na avenida Lins de Vasconcelos, no Cambuci, área central de São Paulo, desabou. No espaço onde boa parte dos cultos era filmada e transmitida, nove pessoas morreram e 117 ficaram feridas. Um laudo preliminar apontou como causa do acidente problemas de conservação e manutenção da estrutura. Dois anos e oito meses após a tragédia, ninguém foi formalmente indenizado. Em pelo menos dez processos, a igreja foi condenada a pagar valores aos fiéis e parentes das vítimas fatais que variam entre R$ 10 mil e R$ 150 mil. Mas os representantes da entidade recorreram de todas as decisões de primeira instância. Somente o advogado Ademar Gomes promove 37 ações de indenização. “A responsabilidade da igreja em relação ao que aconteceu já está comprovada pelos laudos técnicos do Instituto de Criminalística.” O professor de inglês Juris Megnis Júnior, 43 anos, perdeu a mãe, Maria Amélia de Almeida, 60, e a avó Acir Alves da Silva, 79. Sem chance de escapar dos escombros, elas morreram abraçadas. “Não há um dia em que não pense nisso. Nada vai reparar”, afirma. Dirigentes da Renascer respondem criminalmente e na área cível pelo caso em dois processos, que ainda não têm perspectiva de desfecho.


Com a credibilidade abalada, a frequência nas igrejas e a arrecadação caíram ainda mais. Nas reuniões com o bispado nessa época, que aconteciam às terças-feiras, para rever os resultados da semana anterior, as humilhações se multiplicaram. Se antes Estevam e Sônia maltratavam os bispos que não atingiam as metas, agora, dos Estados Unidos, as broncas vinham por videoconferência, com muito mais veemência. “As reu­niões sempre foram um massacre”, lembra um dissidente. “Mas, com eles nos Estados Unidos, as coisas pioraram, embora um time de bispos daqui, junto com o filho do casal, o bispo Tid, tenha articulado um saneamento nas contas da instituição.”

Quando o plano começou a dar resultados, em agosto de 2009, Tid, ou Felippe Daniel Hernandes, precisou fazer uma operação para reparar uma cirurgia de redução de estômago malsucedida. Durante o procedimento, ele teve uma parada cardiorrespiratória que causou um edema cerebral, comprometendo o funcionamento do órgão e, para todos os efeitos, interditando Tid, que passou a viver em estado vegetativo. A fatalidade, terrível para qualquer família, foi ainda pior para os Hernandes, que tinham no filho um sucessor natural preparado para assumir a Renascer quando Sônia e Estevam se aposentassem. O futuro de uma igreja que já se arrastava ficou ainda mais incerto. Embora na instituição ainda se fale em um milagre, para os médicos, o coma do herdeiro, hoje com atividade neurológica quase nula, é irreversível. Sônia é vista quase diariamente visitando o filho na ala de tratamento semi-intensivo do Hospital Albert Einstein. Muitas vezes a visita é feita tarde da noite, depois dos cultos. Quando Tid precisa passar por qualquer procedimento, como foi o caso na semana do dia 5 de setembro, momento em que trocou uma sonda de alimentação, a bispa para tudo para ficar ao lado do primogênito.

DESFALQUE (foto)
A saída do casal Kaká e Caroline Celico, abaixo com Estevam e Sônia, da
Renascer representou um baque e tanto à instituição: eram os principais dizimistas

Em meados de 2009, foi o agravamento do estado de Tid que adiantou a volta do casal dos Estados Unidos. A Justiça americana autorizou o retorno 15 dias antes do fim da sentença, no começo de agosto, para que os pais estivessem no Brasil, caso o estado de saúde do filho piorasse. O retorno marcou uma piora na instituição. O saneamento das contas foi interrompido de vez e a torneira voltou a se abrir para bancar os gastos de Estevam e Sônia. “Não podíamos tirar da contagem nem o dinheiro para pagar o papel higiênico, que dirá o aluguel do templo”, diz um bispo sobre a época que sucedeu o retorno do casal. Contagem é o nome dado pelos religiosos para o procedimento que acontece logo depois do culto, quando as doações são somadas. “Tínhamos que remeter tudo direto para a sede.” Com o aluguel atrasado em diversos locais, a igreja começou a receber ordens de despejo. Em levantamento de dezembro de 2010 feito pelo site Folha Renascer, uma espécie de fórum aberto sobre assuntos ligados à igreja dos Hernandes, 29 templos aparecem com a ordem registrada por falta de pagamento de aluguel em nove foros paulistanos. Hoje com fama de má pagadora, a Renascer tem dificuldade de encontrar proprietários dispostos a tê-la como inquilina.

Foi também em 2010 que a igreja perdeu seu garoto-propaganda e principal dizimista, o jogador de futebol Kaká. Com a mulher, Caroline Celico, eles formavam uma dupla que fortalecia e divulgava a Renascer no Brasil e no mundo. O casal Hernandes não comenta a saída, muito menos o atleta do Real Madrid. Apenas Caroline arrisca alguns comentários enviesados. “Confiei no que me falavam. Parei de buscar as respostas de Deus para mim e comecei a andar de acordo com a interpretação dos homens”, escreveu ela em seu blog. O mau uso do dízimo pago pelo craque, que sabia do fechamento de templos e da fuga de lideranças, teria motivado o rompimento com a igreja. Foi um baque financeiro e tanto. Kaká é o sexto jogador mais bem pago do mundo e, estima-se, depositava nas contas da Renascer 10% dos R$ 21 milhões anuais que recebia.

No fim, quem mais sofre é o fiel. Sua religiosidade acaba envolvida, marginal e injustamente, em questões pouco sagradas. Os evangélicos têm todo o direito de pagar o dízimo e as igrejas de recolhê-lo. O problema é quando o dinheiro desaparece dos templos para reaparecer em forma de ternos, sapatos, brincos e anéis de lideranças pouco comprometidas com a fé. “Estamos nos trâmites finais do processo, em primeira instância, que acusa tanto Estevam quanto Sônia por dissimulação de patrimônio, também conhecida como lavagem de dinheiro”, diz o promotor de Justiça do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo (Gaeco-SP), Arthur Lemos Júnior. O casal costuma atribuir as acusações à perseguição ou à ação de forças malignas. Até meados dos anos 2000 esse discurso tinha algum efeito. Hoje, porém, as coisas mudaram. “A Renascer nunca mais será o que foi”, sentencia Romeiro. Será difícil honrar seu nome de batismo.




Extraído do blog do Genizah Virtual

Estevam e a Sônia: Gente que ninguém quer

Eliézer Sanches


A propósito da leitura desse artigo da ISTO É, sobre a Igreja Renascer em Cristo...

Tive a oportunidade (e porque não dizer o privilégio) de ter participado desse ministério quando ainda era só um punhado de gente que estava cansada das idiossincrasias religiosas de então e sonhavam com uma vida restaurada à normalidade daquilo que a Bíblia mostrava ser... por isso diziam ter a visão de Neemias, da restauração dos muros da cidade santa...

Tempo onde não havia um clero organizado... as pessoas ajudavam porque sentiam-se compelidas a fazê-lo sem esperar reconhecimentos ou imputação de patentes eclesiais quais fossem... só havia gente querendo ajudar àquilo que entendiam ser um movimento genuíno de “amor às vidas” no jargão evangélico... se sentir parte de um movimento que sentiam iria marcar uma geração na igreja brasileira... tempo onde o Estevam e a Sônia desciam do palco para abraçar a quem perto deles chegasse, junto à uma palavra de amor e esperança...

Uma época onde as barreiras do "sagrado" e do "profano" diluíram-se, onde era possível transitar entre uma "Terça-Gospel" no Dama-Xoc e um Show de Rock nas segundas-feiras de evangelismo, que mais se assemelhavam a uma balada qualquer, ainda que o espaço fosse o mesmo dos cultos dominicais... manifestação de demonstração extrema que Deus não habita em templos feitos por mãos de homens... radicalmente protestante...

O brilho nos olhos de cada um, por mínima que fosse sua contribuição para que tudo se operasse com o fim de restaurar vidas, junto a alegria no coração de ver o resultado que se obtinha na operação da mão forte do Senhor era a recompensa mais que suficiente para nós...

Nada era forçado... tudo que se fazia dava naturalmente resultados pois o ambiente que ali estava instalado era o do comprometimento com uma visão de operar o bem ao próximo, sendo o templo só um local que se prestava a dar espaço às iniciativas que levassem em conta a visão de Neemias que o ministério possuía...

As canções eram fruto desse mover de Deus nos idos tempos da então quase-herética Igreja Renascer em Cristo... Katsbarnea com o Brother Simion cantando com aquele jeitão de fissurado... Extra, Extra... o mundo acabará amanha de manhã... Atos 2, declarando Ah, eu quero sim, o Teu amor Senhor... e ainda Resgate, Oficina G3 com o Manga e o Túlio mandando ver em músicas com letras inusitadas comparando os cristãos com Naves Imperiais... e o início do Renascer Praise, com cânticos que remetiam a uma pureza e singeleza de sentido tão claro do Evangelho que, se comparadas às letras de hoje das músicas do mercado gospel (invariavelmente mantras, gemidos, sussurros e grunhidos incompreensíveis e sem qualquer relação com a mensagem de Jesus) seriam vistas com reservas pois sua mensagem seria não-vendável.

Mas não tardou, o canto da sereia foi ouvido... e pior, atendido e correspondido. O ministério de Libertação e Cura Interior foi criado sob a influência dos ensinos tresloucados da Neusa Itioka sobre o tema; a Teologia da Prosperidade vinha sendo pregada de maneira bem light, mas depois o “casal apóstólico” abraçou apaixonadamente esse lixo espiritual e colocou o então Pr. Gesher Cardoso para fazer seminários intensivos nas igrejas Renascer ministrando essa doutrina mamônica e anti-bíblica; vieram à reboque o deslumbrado Benny Hinn com sua esquisita unção do cai-cai; as tais "conferências proféticas" com a equipe do pr. Collin Dye, um especialista em profetadas e a Marcha para Jesus, um evento que originalmente visava dar visibilidade à fé cristã e que aqui virou demonstração de força política para promover negociatas em nome de um reino que não é o dos Céus.

Ainda me recordo daqueles tempos da inocência perdida... comparativamente ao crescimento humano, a Renascer optou por seguir seu próprio caminho, longe da singeleza do Evangelho e encantou-se com os sofismas da vida adulta... e ficou empedernida, incapaz de admitir que errou e voltar atrás para iniciar do ponto onde se desviou...

Eu ainda me pego cantando e pedindo para cantar muitas das músicas dessa época... sou grato à Deus por ter vivido o tempo em que o Estevam e a Sõnia eram só o Estevam e a Sônia e não o alter-ego de ambos que acabou carreado a um título após a investidura de uma patente eclesial...

Certamente presenciei ali também coisas que não correspondiam àquilo que a Palavra ensina... vi fogueira das vaidades, desmandos, surtos de autoritarismo, caça às bruxas e todos os chamados "sete pecados capitais" atuando em pleno vigor... não há quem vivendo em um ambiente assim, agüente por muito tempo sem se contaminar. Confesso que por algum tempo surtei com o surto deles... mas em um insight, quando me vi descaracterizado como um filho de Deus, abri-me à correção do Pai em minha vida e a Sua Graça me alcançou, me fazendo sair a tempo antes que eu ficasse pedrado.

Escrevo estas linhas depois de ler o artigo da ISTO É e de chorar movido por um misto de amor, tristeza, pesar e saudade... estaria idealizando um passado que só existiu na minha mente?... talvez... mas não posso negar que a maneira autêntica e ousada pelo qual a Renascer surgiu e andou nos primeiros anos de sua existência impactaram minha vida mais com coisas boas que com ruins...

Possivelmente a Renascer nunca será aquilo que se propôs a ser a 25 anos atrás na sala do pequeno apartamento do Estevam e da Sônia, ainda com o Tid e a Fernanda bem pequenos... uma família que vivia com dinheiro contado, com o Estevam saindo para vender máquinas de Xerox à pé, quando deram abrigo a um bando de gente que a igreja não os queria nem pagando... igualzinho como Jesus acolheu a mulher adúltera, ao fiscal corrupto, ao samaritano e ao guarda romano. Gente que ninguém quer. Assim como todos nós um dia fomos gente que ninguém quis, só o Pai. Quem sabe não seja a hora de acolhermos de alguma maneira ao Estevam e a Sônia pois HOJE eles são a gente que ninguém quer?

Extraído do blog do Genizah Virtual
Autor do artigo Eli Sanches
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