quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Que Jesus você serve?




Por Leonardo Gonçalves

Cada vez fica mais evidente a diferença entre aquilo que Cristo pregou e viveu, e aquilo que os seus discípulos pregam e vivem. Muitos “seguidores” de Cristo parecem ignorar diversos fatos da vida do Mestre, dando a clara impressão de servirem a outro Jesus, que não é o da Bíblia.

Os crentes da atualidade ensinam uma religião hedonista, onde Cristo não é o salvador da alma, e sim o salvador “da pele”. O objetivo principal dessa religião não é ser salvo ou agradar a Deus, mas desfrutar de todas as benesses de uma vida religiosa. Promete-se uma vida de abundante felicidade e isenta de enfermidade ou dor, um verdadeiro oceano cor-de-rosa! Não há nele qualquer menção ao sofrimento, afinal, os filhos de Deus não sofrem nunca, e jamais serão pobres: “Nosso Deus é o dono do ouro e da prata” [1], dizem, ignorando completamente que esse ouro é dele, e não nosso. A dissonancia desse Cristo triunfalista é obvia: Jesus nos chamou para serví-lo, e não para servir-nos dele. Ele disse: “Quem quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a cada dia a sua cruz, e siga-me”[2]. E no tocante ao Reino, ele foi bastante sincero ao dizer que o seu “Reino não é deste mundo”[3].

Aqueles que pregam este cristianismo hedonista dizem que ninguém jamais saiu triste da presença de Jesus, pois ele sempre correspondeu às expectativas dos seus seguidores. Eles ignoram o caso daquele jovem rico, que ao ter seu coração descoberto e sua avareza desvelada, afastou-se de Jesus, triste de verdade [4].

Ora, o Evangelho não são benesses temporais, mas uma vida atemporal, no céu. Não é satisfação para os nossos prazeres, e sim a mortificação da nossa carne. Aqueles que pensam que Jesus é um grande solucionador de problemas, um Silvio Santos gospel a jogar aviãozinhos de dinheiro para o auditório, estão muito equivocados. Os que assim procedem, definitivamente, não conhecem a Jesus.

Agora, se por um lado há aqueles que pensam que Jesus é um Silvio Santos celestial, por outro há também quem pense que ele é um fariseu enfurecido cheio de raios nas mãos, pronto para dispará-los sobre as cabeças daqueles que tiverem qualquer comportamento não-religioso. O pior é que nesse exacerbado zelo, eles acabam optando por um ascetismo hipócrita, isolando-se das pessoas e vendo o mundo como um inimigo, e não como objeto do amor de Deus e como nosso campo missionário [5]. Tais crentes comportam-se como separatistas radicais, fazem violência a individualidade humana ao impor uma série de proibições absurdas, como “não toques, não proves, não manuseies” [6], e se esquecem que Jesus não foi um abitolado que se escondia das pessoas por medo de se contaminar: ele comia com os publicanos pecadores, participava de festas [7], e abriu seu ministério com um milagre sem igual: transformou 600 litros de água em vinho da melhor qualidade! Os neo-fariseus, no entanto, passam de largo por estes textos, preferindo uma fé míope e legalista, do que viver a plena liberdade que Cristo nos oferece. Para os tais, um Cristo que bebe vinho, come com pecadores e é amigo de prostitutas, definitivamente é carta fora do baralho. Aliás, a própria menção da palavra “baralho” é suficiente para provocar-lhes escândalo.

Olho para ambos grupos com uma profunda tristeza em meu coração, pois percebo que nenhum deles compreendeu ainda a essência do evangelho. Como é difícil a moderação! Qualquer que seja a época, a tendência da igreja (instituição) é sempre polarizar: ou legalista, fariseu e xiita, ou liberal, hedonista e leviano. O bom senso, velho árbitro da moralidade, está em falta na prateleira do mercado religioso.

Contudo, o mais deprimente é ver que ambos grupos não conhecem a Jesus. Eles dizem conhecê-lo e até serví-lo, mas na verdade eles adoram um ídolo. Sim, um ídolo forjado por eles mesmos, uma divindade de Edom, feita sob medida para satisfazer suas concupiscências e prazeres mundanos. Ou um outro totalmente diferente, mas igualmente destrutivo, um divinade xiito-farisaica, produto de uma consciência culpada que deseja comprar o favor de Deus mediante a autojustificação e uma “santificação” alienígena, que está muito mais relacionada ao corte de cabelo e com as vestimentas, do que com o caráter, pensamentos e atitudes de Cristo. Ambos pisam a graça divina, pois se o hedonista não pensa nas coisas espirituais e anela um céu na Terra, o legalista deseja até morar no céu, mas não está disposto a confiar na graça barata, na graça de graça: ele quer pagar o direito de piso. Simonista, ele espera comprar o Dom de Deus mediante a observância de certas práticas que, “apesar de parecerem sábias, uma verdadeira demonstração de humildade e disciplina, não tem nenhum valor para controlar as paixões que levam à imoralidade” [8].

Contrastando com o Jesus fariseu e com o Jesus libertino, está o Jesus bíblico. Olvidado e desprezado, já quase não figura nos púlpitos do nosso país. Cada vez mais me convenço de que o Brasil ainda é um campo missionário, pois apesar do assombroso crescimento dos cristãos evangélicos, apenas uma pequena parcela demonstra conhecer o Cristo da bíblia, o qual é “uma pedra de tropeço e uma rocha de escândalo”[9]. Muitos tropeçam, se escandalizam e caem, mas a Providência de Deus afirma: “Quem crer nele não será confundido”[10], e é por isso que, por mais que me apresentem um outro Cristo, e ainda que esse Cristo genérico faça chover milagres do céu, não abro mão das minhas convicções. Eu sei em quem tenho crido. Eu cri no Cristo. Jamais poderão me confundir!



NOTAS: 1. Ag 2.8 / 2. Mc 8.34 / 3. Jo 18.36 / 4. Mt 19.22 / 5. Jo 3.16 / 6. Cl 2.21 / 7. Jo 2.1 / 8. Cl 2.23 / 9. Rm 9.33; 1Pe 2.8 / 10. Rm 9.33

Extraído de NAPEC Apologética Cristã

Apenas uma Pequena Mentirinha

Extraído do Crônicas do Cotidiano


Na semana passada, fui retirar dinheiro de um dos bancos na rua em que moro. Logo depois de sair, ouvi a voz de um homem atrás de mim. “Não posso falar. Estou dentro do laboratório e já vou ser atendido…”

Intrigada, virei-me para ver o rosto do mentiroso, já que não havia nenhum laboratório móvel encostado na calçada. Em vez disso, vi as costas de um trio se afastando rapidamente, ladeira abaixo—pai e mãe, cada um segurando na mão de uma menina de uns cinco ou seis anos que andava entre eles.


Continuei olhando enquanto que ele tirou o celular do ouvido com a mão esquerda e o enfiou no bolso. Foram se afastando de mim e eu retomei o meu próprio caminho, mas sem retomar meus pensamentos anteriores, pois agora estava refletindo sobre as implicações daquilo que eu havia ouvido e visto nos poucos segundos em que fora participante involuntária na vida daquela família.

Por que aquele homem mentiu? Poderia até ser uma declaração baseada num acontecimento e local verídico—ele (ou a filha, ou a esposa) realmente estava a caminho de fazer um exame no laboratório localizado a uns cem metros dali. Talvez estivesse atrasado, sem tempo para conversar naquele momento. Ou eles já haviam feito o exame, e haviam saído de outro laboratório três quarteirões acima do banco. A “única inverdade” então seria a respeito do tempo—ele estava transferindo um evento futuro ou passado para o presente.

Continuei cogitando—Mas p’ra que fazer isto? P’ra que inventar uma inverdade? Afinal, o que tinha demais ele estar na rua, a alguns quarteirões do laboratório, em vez de que já estar dentro dele? Será que ele não poderia ter dito a verdade—“Estou a pé numa rua barulhenta, e vou fazer um exame de laboratório?” (futuro). Ou “Estou voltando de levar minha filha a um exame de laboratório e estamos correndo na rua para pegar a condução” (passado). Por quê a mentira?

Algumas possibilidades foram surgindo na minha mente, que lutava para encontrar uma solução que poderia elucidar a razão por trás da opção daquele senhor para fornecer uma informação que não refletia a realidade, especialmente numa situação tão corriqueira e aparentemente irrelevante, que nem aparentava ser uma de pressão ou coação.

Poderia ser que ele não ia, ou não foi, para laboratório algum. Talvez ele não estivesse acostumado a mentir. Esta invenção havia sido improvisado na hora para explicar sua ausência no trabalho e ele não havia tido tempo para trabalhar os detalhes. Mais tarde, ele descobriria que o chefe estranhou o som de carros buzinando e do ônibus freando bem dentro de um laboratório!

Por outro lado, ele poderia ser uma pessoa que dava tão pouca importância à veracidade dos detalhes, que mentia descaradamente em qualquer situação, sem nem se dar conta da quantidade de inverdades que proferia em situações do dia-a-dia.

Já na entrada do meu prédio, enquanto esperava o porteiro abrir para mim, mais um detalhe daquilo que havia visto surgiu na minha memória, como se tivesse feito um zoom numa máquina fotográfica. Percebi que na cena clicada na minha mente, e que ainda visualizava, a menininha parecia prestes a tropeçar, pois estava olhando totalmente de lado, para cima, como se estivesse também ouvindo a conversa do pai. Estaria perplexa? Ousaria questioná-lo? E se o fizesse, qual seria a sua resposta?….

Minha mente agora faz outro zoom. Para o futuro. Pai e filha estão conversando no celular.

Vislumbro uma mocinha. O Papai quer saber onde ela está.

Percebo uma moça. O Papai pergunta o que ela está fazendo.

Vejo uma mulher. O Papai está querendo saber quando ela vem visitá-lo novamente. Ela olha para a menininha ao lado, com quem anda na rua, de mãos dadas.

O que ela dirá? Qual será a sua resposta?

Este artigo foi publicado em 22 de outubro, 2010. Está arquivado sob Educação dos Filhos, Família, Filhos/Pais, Honestidade, Mentira/Verdade.

Justiça chama Deus de homofóbico

Foto: Defensoria Pública de SP/Divulgação

Ou não? Afinal, o referido outdoor continha apenas três versículos da Bíblia.


Em recente reportagem do Terra tomamos conhecimento que a Justiça de Ribeirão Preto, interior de SP, determinou a retirada de um outdoor considerado homofóbico.

Em entrevista ao site Portal Cristão News, o pastor Antônio Hernandez Lopes, da Casa de Oração de Ribeirão Preto (SP), lamenta a decisão da Justiça de, a pedido da Defensoria Pública do Estado, retirar um outdoor considerado homofóbico. O painel, carimbado com o apoio da casa evangélica, continha três citações bíblicas, entre as quais um trecho do Levítico que sustenta que "se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram coisa abominável".

"Não estou chorando porque estou com medo. Estou chorando porque estou vendo uma igreja morta! Dormi em um país democrático e acordei em um país ditatorial!", protestou o pastor, que diz agora estar acessível apenas a fiéis. "O fone da igreja eu desliguei. Só mantenho o fone pessoal celular no qual eu atendo as ovelhas."

A decisão da Justiça ocorreu dois dias antes da realização da 7ª Parada do Orgulho LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) da cidade, que aconteceu no domingo, e determina multa de R$ 10 mil para cada ato de descumprimento da decisão. Procurada pelo Terra, a Nóbile Painéis, responsável pelo outdoor e também citada pela Defensoria, disse que não comentaria o assunto.

O que estamos assistindo (e vai recrudescer!) é um processo político onde as partes testarão os seus limites.

Até os recentes embates, nunca tivemos notícia de igreja ou qualquer tipo entidade de cunho religioso fazendo campanhas de propaganda desta natureza e tema, ainda que nenhuma lei impedisse tal iniciativa.

O que vemos costumeiramente são ações da Igreja Católica, em especial as da campanha da fraternidade da CNBB, em geral em favor da família. Também comuns são as iniciativas envolvendo os temas do aborto e o uso de anticoncepcionais.

As iniciativas das igrejas evangélicas são pouco lembradas.

Muito embora as campanhas da ICAR promovendo a virgindade, o uso de contraceptivos e contrárias ao aborto encontrem muita crítica na mídia secular, sendo costumeiramente tratadas de forma irônica e, por vezes agressiva, desconhecemos qualquer iniciativa de censura ou demanda judicial em que tais propagandas tivessem sido retiradas por decisão da justiça. Se isto em algum momento ocorreu no país, o fato foi considerado irrelevante pela mídia.

Considerando que os temas supra envolvem uma parcela da população muito mais significativa do que os grupos da diversidade sexual e, em termos relativos e absolutos, encontram muito menos simpatia da população em geral praticante, sem restrição, dos métodos contraceptivos e, embora possa até declarar ojeriza, é conivente com os números absurdos de vidas ceifadas pelo aborto, eu me pergunto: Não estamos diante de uma clara restrição aos direitos de expressão?

A igreja tem todo o direito de promover os seus valores, assim como qualquer outro grupo e, obviamente, tais direitos sempre irão desagradar alguém.

Até o presente momento a justiça tem negado o direito da igreja de se expressar enquanto garante amplos e irrestritos direitos ao movimento gay de fazê-lo. Contra fatos, não há argumentos.

Para mim fica claro que, agindo assim, parcela do poder judiciário prejudica qualquer processo de convivência pacífica entre as partes, enquanto contribui para a clara restrição dos direitos de expressão dos brasileiros.

Obviamente, o papel histórico do poder judiciário se perdeu diante das recentes medidas do STF que decidiu romper os limites de suas atribuições e legislar e, agora, influencia outras instâncias que abandonam o seu papel de conciliação e contribuem para o acirramento dos ânimos, na medida em que não garantem o mesmo direito de manifestação e expressão a todos.

Eu tenho a impressão que se os direitos de manifestação dos religiosos não estivessem sob ameaça, assim como não estão os direitos de todos os demais movimentos populares deste país, este assunto já estaria esquecido e estaríamos em paz, cada qual vivendo segundo suas escolhas, crenças e (des)governo*.



* Posto que se Deus não decreta naquela vida será, na melhor das hipóteses, a acepção mundana do termo segundo "O que será" de Chico Buarque, pois não há lei que dê governo ao que não se pode governar; o Que está na fantasia dos infelizes; o Que está no dia a dia das meretrizes; O que será, que será? O que não tem decência nem nunca terá; Que todos os avisos não vão evitar; Por que não tem juízo! Ou como disse São Paulo: "Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas cousas, com o uso, se destroem. Tais cousas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade" (Colossenses 2:20-23).



Genizah
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...