terça-feira, 29 de novembro de 2011

Um demônio pra chamar de meu.

by Abner Melanias

O ministro de louvor sai um pouco apressado da igreja. Poucos cumprimentos, míseros sorrisos. Alguns minutos antes, durante a ministração, ele conduziu quatro pessoas à salvação. A comunidade cristã aplaudia incessantemente. A música termina, a performance também. No carro, o silêncio é mortal. Do lado do passageiro, sua esposa inicia uma oração silenciosa. No banco de trás as crianças já sabem o que irá acontecer. Há também uma presença sombria dentro do carro, mas esta não pode ser vista por eles, apenas sentida.

As crianças são “trancadas” em seus quartos. Devem dormir. O aparelho de som é ligado: “Eu sou casa, lugar de Deus…”. Esse movimento é apenas para camuflar a briga que ocorre no quarto do casal. A mesma boca que louvou a Deus agora violenta sua mulher com palavras nada elogiosas. A presença demoníaca ri com a confusão criada.

[...]

Há, em nossos dias, uma perspectiva teológica que abarca a noção de que o demônio é uma projeção dos medos e inseguranças humanos. Influenciados principalmente por Freud, que a respeito de Deus afirmou algo parecido, são muitos os líderes e pastores que possuem essa ideia de um demônio imaginário, não por não crerem na bíblia, mas por aceitarem o iluminismo filosófico como matriz de suas concepções a cerca do mal, do diabo, do inferno.

Em contrapartida, muitos cristãos creem no demônio como força real a ser enfrentada numa realidade cada vez mais cruel. Não faço alusão aos telepastores e igrejas neopentecostais com seus demônios domesticados, mas sim aos evangélicos que levam sua vida cristã em conflito e guerra com essas potestades. Por mais absurdo que isso possa parecer, à quem usa da razão para discernir questões não facilmente explicadas, as forças do mal contra as forças do bem coexistem nas fronteiras do real.

O maior problema de admitir acreditar em forças sobrenaturais é cair na tentação de explicar o mundo por meio dessa ótica. Equivale dizer que, ou é problema do diabo ou foi Deus quem quis assim. A proposta é tão redutora que admite o poder demoníaco acima do de Deus, como se por trás de tudo (problemas financeiros, familiares, afetivos, psíquicos, etc) houvesse uma estratégia diabólica. Entretanto, esse argumento é tão raso que não produz sentido para quem não tem relação com qualquer tipo de fé. Vale ressaltar que demonizar outras religiões pode ser também ato estratégico do diabo (?!).

Como propor, então, um pensamento equilibrado acerca dessas questões? Porque é mais fácil crer nos dons espirituais do que nas intervenções demoníacas no dia-a-dia de um cristão?

Emilio Conde em “Pentecostes para Todos” propõe que deveríamos voltar ao Pentecostes, à fé apostólica, à fé que tudo pode, à fé que faz tremer o próprio diabo. Lembremos também que os conceitos religiosos na modernidade produziu discursos  promíscuos: um Deus pequeno que serve aos meus caprichos e interesses pessoais. Ir no contra-fluxo já não é uma opção, mostra-se uma necessidade.

Não à toa, vemos o papel de anjos e demônios sendo retomado nas artes de modo geral e nas práticas religiosas, de forma mais específica. Porém, fico com a afirmação de Paulo a respeito da soberania de Deus, em Atos 17.26: Ele é quem fixa os limites do tempo e os limites da habitação.

Enquanto estamos preocupados em resolver nossos problemas basilares esquecemos em contrapartida de milhares de outras pessoas que estão se perdendo em questões minímas, dentro de sua fé, sua igreja, sua espiritualidade. Ricardo Gondim afirma em “Artesões de uma nova História” que o grande problema que a igreja enfrenta é que as pessoas são salvas, libertas da escravidão do pecado, mas veem na salvação um fim em si mesmo. Por isso, faz-se necessário questionar: fomos salvos do quê? E qual a importância de proclamar nossa fé num  ambiente dominado por filosofias tão distantes das verdade bíblicas, isto é, da Verdade?

Em resumo, sim, o diabo existe. Porém, como criatura decaída que é, tem seu poder limitado sobre os homens, e no mundo existem limites que não podem ser ultrapassados por ele. Isto porque uma fé centralizada na pessoa de Cristo engloba a noção de que o mal não pode forçar ou coibir nossa liberdade conquistada com o sacrifício do Único que tem poder sobre os “pets” que alguns insistem em criar e chamar de “meu”.

[...]

O ministro de louvor sai do quarto enquanto as lágrimas de sua esposa caem no chão frio onde ela está ajoelhada, humilhada. O aparelho de som é desligado. As crianças já dormem. Algumas luzes são apagas. No sofá da sala de estar o ministro senta-se e, começa a folhear a bíblia, afinal precisa se preparar para a ministração de logo mais…

Extraído do site "Achando Graça"

3 comentários:

  1. ISSO É RIDICULO .... DE UMA FONTE NAO PODE SAIR AGUA DOCE E AGUA SALGADA DEUS NÃO DEIXA EM PUNE !!!! INFELISMENTE NAO ACONTECE SÓ COM MINISTROS DE LOUVOR MAS TAMBEM COM PASTORES E SIMPLES MEMBROS.

    DE SACO CHEIO DE TANTA IPOCRIZIA

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  2. Não entendi sua indignação. Da próxima vez, explique onde não concorda, e de preferência use a Bíblia para justificar sua posição. assim fica difícil tentar dar uma resposta para um comentário tão evasivo.

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