quinta-feira, 13 de outubro de 2011

E quando Deus não cura? – Parte 2/2

By Maurício Zágari

Hoje o assunto do APENAS é a sequência do post que publiquei ontem (11.10.11), sobre por que Deus não cura a sua doença, intitulado E quando Deus não cura? – Parte 1/2. Se você não leu sugiro que o faça e depois retome a leitura aqui. Contei que sofro há 16 anos com uma doença horrível e incurável chamada fibromialgia, falei de minha conversão, de como na igreja me ensinaram tudo errado sobre cura divina e como isso me levou ao desemprego e a uma profunda depressão. Como seria um post muito longo, seguindo o conselho de meu amigo Pr. Renato Vargens (@renatovargens) resolvi dividi-lo em 2 partes, que publico ontem e hoje aqui no APENAS (e no blog da MIAC).

Continuo do ponto em que parei no E quando Deus não cura? – Parte 1/2. Dizia eu o seguinte:

Sei que há muitos na mesma situação, com doenças diferentes, mas que desejam muito ser curados. E que, assim como eu e o irmão que mencionei ontem – e cujo e-mail que me enviou deu origem a essa série de dois post -, ouviram montes de bobagens antibíblicas, baseadas nas ideias da Confissão Positiva proliferadas por hereges como Kenneth Hagin (recomendo enfaticamente que leia o post “E se a Teologia da Prosperidade se convertesse ao Espiritismo?” e descubra de onde saíram essas ideias). Bobagens essas que, além das dores em si que sentimos no corpo, geram dores na alma, culpa nos ossos, infelicidade e a nítida sensação de que Deus por Sua vontade já nos teria curado mas, por culpa nossa, da nossa falta de fé, porque erramos uma letra ou uma vírgula numa oração… continuamos doentes.

O texto-base para isso é o conhecido Isaías 53.4,5, que diz: “Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças; contudo nós o consideramos castigado por Deus, por Deus atingido e afligido. Mas ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniqüidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados“. A grande dificuldade diante disso é: se Jesus tomou sobre si todas as nossas enfermidades, se sobre si levou as nossas doenças, se pelas suas feridas fomos curados e os verbos estão todos no tempo passado, o que seria uma prova de que Cristo já curou a humanidadade inteira – só temos que “tomar posse pela fé” – POR QUE DIABOS NÃO SOMOS CURADOS? Desculpe o caps, mas é assim, com caps ativado, que essas dúvidas passam por nossa cabeça.

Vamos então à teologia bíblica.

Com a palavra, as Escrituras Sagradas

O que escrevo a partir daqui aprendi com o pastor e teólogo John Piper (foto à esquerda), o primeiro cujos escritos a respeito dessa questão fizeram sentido para mim e que me mostraram o que creio hoje ser a explicação correta sobre Isaías 53 e a cura divina, em vez daquelas justificativas triunfalistas que não dão em nada. A explicação de Piper faz sentido e dá sentido ao fato de por que milhões (sim, eu disse milhões) de cristãos salvos, lavados e redimidos por Jesus Cristo em todo o mundo ao longo da História ficaram doentes, viveram doentes, morreram doentes… e hoje estão no Céu, ao lado do Cordeiro. O que passarei a escrever a partir daqui foi retirado do artigo intitulado Cristo e o Câncer, que pode ser lido em sua íntegra AQUI. A bem da verdade, muitos dos trechos abaixo não são palavras de Maurício Zágari, mas reproduzidas do próprio artigo, são palavras de Piper. Como mesclo os dois, evito usar aspas e notas de pé de página, para dar fluência ao texto. Mas saiba que o que você lerá agora vem do artigo de Piper, com cujas ideias estou de acordo, mesclado com intervenções minhas:

1. Jesus cura sim por meio de milagres. A Biblia é clara sobre isso e mostra muitas curas promovidas por Ele. Como Ele é o mesmo ontem, hoje e sempre, continua a fazer hoje o que fez dois mil anos atrás. Então a cura divina em nossos dias é uma realidade bíblica.

2. Como explicar então que muitos cristãos bons e sinceros não fiquem curados? Romanos 8:18-28 nós dá pistas para alcançarmos essa explicação. O texto começa dizendo: “Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada. A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados. Pois ela foi submetida à inutilidade, não pela sua própria escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra”. Primeira conclusão: toda a criação foi submetida à inutilidade.

O que isso significa? Que a era em que nós vivemos, que vai da queda do homem até a segunda vinda de Cristo, é uma era na qual a criação, incluindo nossos corpos, foi “submetida à inutilidade” e “escravizada na decadência”. Ou seja: este mundo encontra-se sob a sentença judicial de Deus sobre uma humanidade rebelde e pecadora – uma sentença de decadência universal. E ninguém está excluído, nem mesmo os filhos de Deus. Assim, nossos corpos neste mundo caído serão destruídos de um modo ou de outro. Pois toda a criação foi submetida à inutilidade e escravizada na decadência enquanto durar esta era.

3. A boa noticia é que haverá um tempo de libertação e redenção, quando todos os filhos de Deus, que resistiram até o fim na fé, serão libertos de toda inutilidade e corrupção, espitualmente e fisicamente. Isso está no versículo 21, que diz: “A própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra, recebendo a gloriosa liberdade dos filhos de Deus”. E o versículo 23 continua: “Nós mesmos, que temos os primeiros frutos do Espírito, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa adoção como filhos, a redenção do nosso corpo”.

4. A verdade é que isso não aconteceu ainda, por enquanto nós aguardamos – mas acontecerá. Filipenses 3:20,21 ratifica: “A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. (…) Ele transformará os nossos corpos humilhados, tornando-os semelhantes ao seu corpo glorioso.”

5. E mais: 1 Coríntios 15:52 afirma que “num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta, pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados”. O que fecha com Apocalipse 21:4, que diz: “Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou.”. Ou seja: chegará o dia em que cada muleta e cadeira de rodas será descartada e cada doente entrará feliz e saltitante no Reino dos Céus.

6. E AQUI ESTÁ A GRANDE QUESTÃO: todas essas promessas não são ainda para esta vida, no caso dos que não recebem uma cura milagrosa. Por enquanto nós gememos, esperando pela redenção de nossos corpos. Mas a boa noticia é que o dia chegará.

Mas pera aí, Zágari, e Isaías 53?

Diante disso, como explicar então a passagem de Isaías 53, que diz que jesus JÁ curou todas as nossas enfermidades? Essa passagem é 100% verdadeira. Cristo conquistou, demonstrou e nos deu um antegosto dela. E essa palavra é chave: antegosto, ou seja, seria algo como uma “amostra grátis”, uma provinha que comprova que aquilo é possível em maior escala no futuro. Isso porque Jesus veio e morreu para conquistar nossa redenção, para demonstrar o caráter dessa redenção espiritual e física, e para nos dar uma prova dessa redenção. Pedro aplicou o trecho de Isaías aos cristãos em 1 Pedro 2:24.

Logo, a bênção do perdão e a bênção da cura física foram conquistadas por Cristo na cruz e todos aqueles que dão suas vidas a Ele poderão desfrutar desses benefícios. Mas a pergunta que não quer calar é: quando? Essa é a grande questão: QUANDO seremos curados? Quando nossos corpos não serão mais escravos da decadência?

Repare: o ministério de Jesus teve muitas curas. Mas você já parou para pensar que Ele não curou TODOS os doentes? Ressuscitou Lázaro e a filha de Jairo mas também não ressuscitou TODOS os mortos. Interessante, não? E por quê? Porque a primeira vinda do messias não foi a consumação e completa redenção desta era caída. A primeira vinda foi para conquistar a consumação, ilustrar seu caráter e trazer um antegosto dela. Logo, Jesus ressuscitou alguns mortos para ilustrar que tem esse poder e um dia virá e o exercerá pra todo seu povo. Ele curou os doentes pra ilustrar que assim será em seu Reino final.

Os benefícios conquistados na cruz podem ser usufruídos de certa maneira agora, em nossos dias – incluindo cura. Deus cura os doentes agora em resposta às nossas orações. Mas não sempre. Pessoas obcecadas por milagres empilham culpa sobre culpa nas costas do povo de Deus afirmando que a única coisa entre eles e a cura é a falta de fé. Isso é uma falha grave na compreensão da natureza dos propósitos de Deus nesta era caída. Elas têm minimizado a profundidade do pecado, a crucialidade da disciplina purificadora de Deus e o valor da fé por meio do sofrimento.

Em resumo – e preste bem atenção a isto: essa teologia equivocada é culpada por tentar forçar nesta era o que Deus reservou para a próxima.

Mas e o Diabo?

Entenda uma coisa: é Deus quem tem o poder de controlar quem fica doente e todas suas decisões são para o bem de seus filhos, mesmo se forem dolorosas e duradouras. Ainda seguindo o pensamento de John Piper, repare: em Êxodo 4:11, Deus diz a Moisés: “Quem deu boca ao homem? Quem o fez surdo ou mudo? Quem lhe concede vista ou torna cego? Não sou eu, o Senhor?”. Ou seja: por trás de toda doença está a mão de Deus. Ele fala ainda em Deuteronômio 32:39: “Vejam agora que eu sou o único, eu mesmo. Não há Deus além de mim. faço morrer e faço viver, feri e curarei, e ninguém é capaz de livrar-se da minha mão.”

Aí você argumenta: mas e Satanás? Não é ele o grande inimigo da nossa saúde? Não foi Satanás quem atormentou Jó? Foi. Mas Satanás não tem nenhum poder além daquele que é dado por Deus. Note que Jó percebe essa realidade: em Jó 2:7 lemos: “Saiu, pois, Satanás da presença do Senhor e afligiu Jó com feridas terríveis”. Mas, curioso, é que depois, quando sua mulher lhe diz pra amaldiçoar Deus e morrer, Jó diz “aceitaremos o bem dado por Deus, e não o mal? E se pensarmos que Jó errou ao atribuir a Deus suas feridas afligidas por Satanás, o autor acrescenta: “Em tudo isso Jó não pecou com seus lábios”. Em outras palavras, não é pecado reconhecer a mão soberana de Deus mesmo por trás de uma doença da qual Satanás seja o causador mais imediato.

E por que Deus permite isso?

Seguindo o pensamento do teólogo John Piper, vemos que todas as tentativas de Satanás de afligir os santos são transformadas por Deus em purificação e fortalecimento da fé. E aqui está o ensinamento principal: a meta de Deus para seu povo nesta era não é primariamente livrar de doenças e dor, mas lavar-nos do pecado e fazer com que, em nossa fraqueza, apeguemo-nos a Ele como nossa única esperança. E eu concordo. Importa a Deus o destino eterno das almas humanas. Esta vida, diz a Bíblia, é como um sopro e tem um peso irrisório diante da vida eterna, diante do porvir, diante dos bilhões de anos que nossa alma viverá após nossa morte. É esse tempo que mais interessa a Deus. E que mais deveria interessar a nós.

Então, diante disso, como o doente deve orar?

Devemos orar por um poder que cura e uma graça que sustenta. Devemos orar SIM para Deus nos curar, mas também para fortalecer nossa fé enquanto não formos curados. É aceitável que um filho peça ao pai por alívio. E é aceitável que um pai amoroso dê ao filho apenas o que for melhor. E é isso o que o Pai celestial faz: às vezes cura agora, às vezes não. Mas sempre fazendo o melhor para nós.

Poderia então surgir a dúvida: se às vezes é melhor para nós não sermos curados na hora, como sabemos o que orar? Como sabemos quando parar de pedir por cura e apenas pedir por graça para confiar na bondade de Deus? O apóstolo Paulo enfrentou esse mesmo problema. Em 2 Coríntios 12:7-10 vemos que Paulo, como Jó, recebeu um espinho na carne, que ele chamou de “mensageiro de Satanás”. Não sabemos se era uma doença, mas ele diz que orou três vezes para ver-se livre do mal. Mas então Deus lhe deu a certeza de que, apesar de não curá-lo ou livrá-lo, ainda sua graça seria suficiente e seu poder seria manifestado não na cura mas no fiel serviço de Paulo por meio do sofrimento.

No texto de Romanos 8:26,27 Piper acredita que Paulo trata da mesma questão. Diz a passagem: “O Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações conhece a intenção do Espírito, porque o Espírito intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus.”

Portanto, às vezes tudo que podemos fazer é suplicar por ajuda pois não sabemos como ela virá.

Ou seja: o Espírito de Deus pega nossas expressões falhas e incertas e as leva diante de Deus de uma forma que está de acordo com as intenções do Pai. Diante disso, Deus responde com graça e supre nossas necessidades – nem sempre como esperávamos, mas sempre para o nosso bem.

E que conclusões tiramos disso tudo?

Tendo visto tudo isso, a conclusão – segundo Piper e também de acordo com minha visão bíblica – é que devemos sempre confiar no amor e no poder de Deus, mesmo na hora de mais dor. Eu, Zágari, tenho vivenciado isso na minha vida.

Piper diz em seu artigo e eu fecho 100% com ele: “O que mais me angustia nos que dizem que cristãos devem sempre ser curados por milagres é que parece que a qualidade da fé só pode ser medida pela ocorrência de um milagre de cura física. Mas no Novo Testamento você vê que a qualidade da nossa fé se mede pela alegria e confiança que mantemos em Deus na hora da dor“.

Tanto é assim que o grande capítulo sobre a fé é Hebreus 11. O texto começa deste modo: “Fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova do que não vemos”. E aí Piper tem a grande iluminação: “Mas o que raramente se nota são os oito versículos finais, onde temos a imagem da fé como a que espera em Deus pelo resgate do sofrimento e por paz e esperança no sofrimento. Diz assim: “Pela fé conquistaram reinos, praticaram a justiça, alcançaram o cumprimento de promessas, fecharam a boca de leõs, apagaram o poder do fogo e escaparam do fio da espada; da fraqueza tiraram força, tornaram-se poderosos na batalha e puseram em fuga exércitos estrangeiros.”

O erro então está em acreditar que a fé sempre vence nessa vida! Pois neste ponto do texto de Hebreus há uma virada e vemos que a fé também pode nos tomar a vida. Repare atentamente: “Pela fé uns foram torturados e recusaram ser libertados, para poderem alcançar uma ressurreição superior; outros enfrentaram zombaria e açoites; outros ainda foram acorrentados e colocados na prisão, apedrejados, serrados ao meio, postos à prova, mortos ao fio da espada. andaram errantes, vestidos de pele de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos e maltratados. O mundo não era digno deles. Vagaram pelos desertos e montes, pelas cavernas e grutas. todos estes receberam bom testemunho por meio da fé.”

Então, a glória de Deus se manifesta quando ele cura e também quando dá esperança e paz a quem não cura – porque isso também é um milagre da graça!

Últimas palavras

Sei que este foi um post longo. Espero que tê-lo dividido em duas partes tenha ajudado na leitura. Todavia, não teria como ser diferente, para expor argumentos sólidos e bíblicos bem embasados. Mas espero que você que, assim como eu, é afligido por alguma moléstia, por dores e sofrimento, entenda a realidade das Escrituras: Jesus cura, mas não promete curar todos nesta vida, exatamente do mesmo modo que ele ressuscita mortos mas não promete ressuscitar todos nesta vida. O que temos são “amostras grátis” do que ele fará no porvir, na eternidade.

O pregador Smith Wigglesworth (1859-1947) foi um dos homens mais usados da História em cura divina. Ele orava de púlpito e multidões eram curadas na hora de todo tipo de doença. Era um homem de enorme fé. No entanto, sua própria filha nasceu surda, viveu surda e morreu surda. Como explicar isso se curas somente dependessem da nossa fé e não da soberania do Criador dos céus e da Terra?

O mais importante para Deus é o que acontece em nossa alma e em nosso espírito como decorrência da dor e do sofrimento. É por isso que, a cada dia da minha vida, com muito esforço o Senhor me dá forças para levantar da cama, mesmo com dores, dobrar meus joelhos doloridos e fazer minha oração matinal: “Obrigado, Senhor, porque a tua graça me basta. E que seja feita neste dia a tua boa, perfeita e agradável vontade, assim na terra como no Céu. O Senhor deu, o Senhor tomou, bendito seja o nome do Senhor. Acompanha-me a cada passo, te suplico. Se quiseres curar-me hoje… ficarei feliz e eternamente agradecido. Mas se não quiseres, que eu viva como um filho digno, na esperança da eternidade. Te amo, Jesus, curando-me ou não. Amém”.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Extraído do blog "Apenas1", artigo de @MauricioZagari

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