Porque a ceia do Senhor não é "A SANTA CEIA".

A Ceia do Senhor é um momento de grande solenidade e significado na vida dos salvos. Não costumamos chamar a Ceia do Senhor de "Santa Ceia" porque não encontramos base bíblica para crer na presença real, nem na presença mística ou espiritual de Cristo no pão e no cálice.

A substância do pão não se transforma na substância do corpo de Cristo nem a substância do vinho se transforma no sangue de Jesus. Biblicamente, a Ceia não é um sacramento, mas um memorial, segundo as palavras do próprio Cristo: "Fazei isto em memória de mim" (1Co 11.25). Não é a Ceia que é santa. Santo é o Deus a quem adoramos nesta celebração, que enviou seu Filho bendito para dar sua vida como preço do resgate por nós por causa do seu eterno amor.

Santo é o Salvador a quem lembramos nos símbolos da sua graça: seu corpo partido por nós, e seu sangue por nós derramado no Calvário para a nossa redenção. Santo é o Espírito de Deus que está presente, não dentro das bandejas de pão e cálices, mas em nossos corações, em nossas almas, para nos tornar santos pela purificação dos nossos pecados através da eficácia do sangue de Jesus (1Jo 1.7; Ef 1.6,7).

Santa é a comunhão que temos com os salvos na celebração, pois o sangue de Cristo, no cálice memorizado, lavou-nos de nossas iras e mágoas, de julgamentos incompassivos, da falta de perdão, da inveja, da cobiça, da malícia, tornando-nos capazes de apertar a mão do nosso irmão, de todos eles, olhando dentro dos seus olhos com sinceridade, podendo dizer do mais profundo da nossa alma: "Eu te amo no amor de Jesus, meu irmão, minha irmã".

Santa é a esperança que a Ceia do Senhor renova em nossa alma cada vez que a celebramos, a certeza de que, por causa do sangue de Jesus, que nos purificou de nossos pecados, um dia estaremos com ele na comunhão perfeita da sua presença na Glória (Ap 7.14).

A escritura mais elucidativa sobre o significado original da Ceia do Senhor está em 1Coríntios 11.17-29. Destaquemos algumas verdades ali contidas:

a) A Ceia do Senhor é uma celebração da Igreja quando reunida como tal. O costume naquele tempo era celebrar a Ceia "quando vos ajuntais na igreja" (v. 17). "Quando vos reunis num lugar" (v. 20). As igrejas se reuniam nos lares dos crentes, mas a Ceia do Senhor não era para ser celebrada em família ou em qualquer outro lugar fora da ekklesia, a assembléia dos salvos.

b) Devido à sua origem (uma ordem do Senhor, v. 23) e devido ao seu significado (a memória viva do sacrifício de Cristo na cruz, que nos trouxe a vida eterna, v. 25), a Ceia do Senhor deve ser celebrada com espiritualidade, com seriedade, com louvor e alegria e não como uma festa profana (v. 21), nem como um funeral, pois celebramos na presença do Cristo ressuscitado.

c) A Ceia do Senhor é a democracia cristã simbolizada na sua prática. Desaparecem as diferenças entre homem e mulher, entre senhores e escravos, entre judeus e gentios, entre clérigos e leigos, entre crentes antigos e novos, entre líderes e liderados. Todos participam do mesmo pão e do mesmo cálice sem qualquer das discriminações que estavam acontecendo em Corinto (v. 22).

d) Não há qualquer prescrição quanto ao pão ser pão comum ou ázimo (sem fermento), nem quanto ao "vinho" ser suco de uva ou vinho fermentado. Parece que em Corinto usavam vinho fermentado (v. 21), porém, nem Jesus nem Paulo usam a palavra "vinho" (oinos), mas, por metonímia, é usada a palavra cálice ou a expressão de Jesus, "fruto da vide". A sacralização dos elementos não estava na mente de Jesus nem dos apóstolos.

e) A Ceia do Senhor celebra o "novo pacto" consagrado no Calvário. Embora Jesus tenha instituído a Ceia durante a celebração da Páscoa dos judeus, a Ceia não é a "Páscoa dos Cristãos". Na Páscoa dos judeus era usado profeticamente o sangue de um cordeiro. Que não tinha poder para purificar pecados (Hb 10.4). Na Ceia do Senhor, é celebrado o "pacto do sangue de Cristo", eficaz para banir a culpa e purificar os pecados (Hb 10.10). A repetição da Ceia mensalmente (na Igreja primitiva era semanalmente), não significa a repetição do sacrifício de Cristo, mas a constância da memória do sacrifício único, irrepetível (Hb 10.12) e insubstituível.

f) A Ceia do Senhor é uma proclamação evangélica, ou seja, anuncia o evangelho da salvação por meio da morte de Cristo (v. 26).

g) A Ceia do Senhor é também um memorial que nos leva a uma comunhão de amor como irmãos, como igreja, uma vez que todos somos ramos de uma única videira e todos somos um mesmo pão no símbolo do corpo de Cristo.

h) Ao participar da Ceia do Senhor, os salvos devem fazer um exame do seu próprio interior (v. 28) e aproveitar o ensejo para permitir que o Espírito de Deus santifique seus corações para que não comam do pão nem bebam do cálice indevidamente, ou seja, sem a necessária consciência do significado que Jesus lhe atribui (v. 27).

i) A Ceia do Senhor é a memória da esperança. Deve ser celebrada "até que ele venha" (v. 26). Não haverá Ceia no Céu porque os salvos não necessitarão mais dos símbolos da presença de Cristo, pois lá estarão face a face com o próprio Cristo. Essa é a certeza que toma conta da alma dos salvos na celebração da Ceia: Aqui, nossa comunhão com Cristo é pela fé, pela memória do que ele fez por nós. Na Glória, será uma comunhão real e eterna. Que não percamos o sentido da esperança ao celebrarmos a Ceia do Senhor.

Conclusão

O batismo e a Ceia do Senhor são as celebrações de mais profundo significado na vida dos cristãos desde os primórdios do Cristianismo e desde a inserção de cada um de nós na Igreja de Jesus. Atos 2.42 registra que os discípulos de Jesus "perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações". Qualquer desvirtuamento na prática dessas ordenanças representa grave dano aos fundamentos da nossa fé. Conservemos o significado bíblico do batismo e da Ceia do Senhor, sem concessões de falsa piedade ou de uma pseudomodernidade sem lastro escriturístico. Nas celebrações dos batismos e da Ceia, perseveremos na doutrina dos apóstolos de Cristo.


Extraído do site da UFMBB (União Feminina Missionária Batista do Brasil)